A meditação do evangelho de hoje faz lembrar do Eduardo Galeano. Certa altura, no Livro dos Abraços, ele escreveu uma história que li pela primeira vez em 2008: «um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas. – O mundo é isso, revelou, um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo».
Jesus disse a multidão que a luz é alguma coisa que não pode permanecer escondida: «quem traz uma lâmpada para colocar debaixo da cama? Não, lâmpadas no candeeiro!» Luz para iluminar! Imaginemos que no tempo de Jesus não havia luz elétrica. Alguém chegar com uma vela e esconder era totalmente sem sentido.
O convite é traduzir, é implicar-se de tal forma que a vida não fique escondida. Ninguém pode deixar de ser o que é, muito embora, esse seja um caminho grande! Assim também é com Deus, para além de saber tudo sobre Deus, é necessário deixar que sua luz escape pelas nossas mãos, pela nossa vida, e se configure em luz, ou, como escreveu Galeano, em fogo. Guardar, esconder a luz é guardar e esconder aquilo que somos.
É inevitável pensar que a luz continua ali, mesmo se a recusamos. Ela é transgressora e iluminar para dentro também é vocação. Clarice Lispector que dizia: «eu não escrevo para fora, escrevo para dentro». Valter Hugo Mãe, um português visceral traduziu essa transcendência do meio de seu ateísmo: «quem deixou sobre o coração um feixe de luz, não cega nunca!». Amém!
Pe. Maicon A. Malacarne