No livro do Gênesis (3,10), Adão disse a Deus: «ouvi teu passo no jardim, tive medo porque estava nu e me escondi!» É que junto de Eva, haviam transgredido a responsabilidade confiada por Deus, enveredando para o caminho da paladina serpente, ou seja, colocando a liberdade na direção deles mesmos, do egoísmo. A nudez que era a abertura da relação com Deus passou a ser sinal de vergonha!
O evangelho de hoje sugere (Jo 21,1-19) a redenção de Adão. Os discípulos, depois da crucificação, tinham voltado ao mar, a pescaria, atividade que alguns desenvolviam antes de conhecerem e seguirem Jesus. A pesca ia mal até ouvirem alguém dizer, da praia: «lancem as redes no outro lado». Era Jesus ressuscitado, mas, por causa da distância, não conseguiam reconhecer. Obedientes aquela indicação, lançaram as redes e elas quase se romperam com tamanha quantidade de peixes. Perceberam, então, que era Jesus! Pedro «vestiu-se, pois estava nu, e lançou-se ao mar». É um gesto curioso: vestir-se e mergulhar! Pouco antes, Pedro tinha negado Jesus três vezes e quando o vê ressuscitado finalmente acredita em tudo!
Colocar a roupa é vestir-se do projeto de Jesus e configurar-se definitivamente nEle. O mergulho de Pedro é batismal e pascal, é imergir para superar o Pedro velho e nascer o Pedro novo que estamos acompanhando nesses dias pelos Atos dos Apóstolos! Logo depois Jesus ainda vai perguntar três vezes a Pedro: «tu me amas?» A roupa do «novo» Pedro é a roupa do amor que exige uma resposta: seguir Jesus e cuidar do mundo! Ou, seguir Jesus é cuidar do mundo! Essa é a nova roupa para participar da festa da vida (cf. Mt 22,11).
Se a nudez de Adão o envergonhava, a nova roupa de Pedro é a redenção pela Ressurreição. De fato, não se pode amar Jesus apenas em determinadas situações, hora ou outra é preciso «vestir a roupa», amar integralmente e mesmo com as redes vazias, ou ficaremos sempre na margem da fé! Trata-se de aprender a confiar e ter a certeza daquilo que Giovanni Vannucci traduziu em poesia: «Estamos imergidos num oceano de amor e não nos damos conta». O salto de Pedro para ser novo é o salto ao amor!
Pe. Maicon A. Malacarne