A solenidade da Ascensão do Senhor, deste domingo, ilumina experiências como da Orquestra italiana, com sede em Milão, chamada «Esagramma» (hexagrama, em português), que foi criada pelo professor de Teologia Moral e musicista, Pierangelo Sequeri. Trata-se de uma orquestra formada por crianças e adultos com deficiências psíquicas e mentais: autismo, síndrome de Down, psicose infantil, deficiência intelectual…
O que se pode assistir é a soma de pequenos milagres: alguns que não sabem ler, decoram a partitura; outros, que tem dificuldade de desenvolver o pensamento, permanecem concentrados por mais de 2 horas de concerto. O programa aposta na sinfonia a partir das relações, do cuidado afetivo e emocional. Daí vem o nome: hexagrama é a «linha a mais» da tradicional pauta musical formada pelo pentagrama (5 linhas). O excesso é a experiência em que ninguém precisa ficar de fora, onde a complexidade é acessível, onde cada encontro tem a potência de salvar.
A Ascensão de Jesus, de fato, é o salto, é a linha a mais, é o excesso dentro da normalidade! Não pode, no entanto, ser compreendida como uma mágica, porque ela está fundada na encarnação, na descida, no ventre de Maria, nas estradas de Nazaré, na missão pela Galileia, na cruz e na ressurreição. Jesus Cristo é elevado ao céu depois de lavar os pés dos discípulos, depois da última ceia, depois de doar-se integralmente. A Ascensão é um ponto de chegada que não deixa de ser um ponto de partida: a comunhão com o Pai que é capaz de gerar mais vida. Onde há o perigo de diminuir, a Ascensão é a potência que rompe, que grita eternidade.
A Esagramma é uma antecipação do céu! Não pela perfeição na harmonia musical, mas porque toda possível limitação é acolhida e integrada. A surdez, a mudez, a dificuldade de movimentação, a agitação, tudo é abrigado em caminhos de reabilitação, na companhia da música. Acompanhando essa experiência é possível tatear, ainda melhor, aquilo que Jesus disse no final do evangelho de hoje (Mt 28,16-20): «eu estarei com vocês, todos os dias, até o fim do mundo».