A humanidade tem tudo o que precisa, se faltasse algo, «Deus já teria dado a nós». A famosa reflexão de Madeleine Delbrêl, poetisa e mística católica nascida na França, ajuda a costurar o mapa das bem-aventuranças, evangelho da liturgia de hoje (Mt 5,1-12). De fato, os estudiosos dizem que este texto é a grande carta magna de Jesus para a humanidade. Não pode haver seguimento a Jesus fora das bem-aventuranças.
Jesus, no alto da montanha, diante de seus discípulos e de muitas pessoas, ensinou que os felizes são «os pobres em espírito, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que são perseguidos». As regras do jogo foram todas invertidas. Se o mundo considera feliz um lado da moeda, Jesus afirmou que a verdadeira felicidade é o outro lado, é um outro estilo de vida! O mundo visto na direção das bem-aventuranças é um outro mundo.
A vida feliz que Jesus estava propondo está bem de cada pessoa: «bem-aventurado sois vós». Quer dizer, é aprendendo a viver cada situação que acontece todo dia, na alegria, na dificuldade, na paz e na guerra, que se trilha uma estrada na direção da felicidade. Já temos tudo, porque o tudo é a vida com todas as convergências e as deslinearidades.
Gostaria de evocar a Madeleine Delbrêl para também concluir essa pequena meditação. Ela encerra um dos seus textos com um tremendo convite: «cada pequena ação diária é um imenso evento no qual nos é dado o paraíso. Não importa o que temos de fazer: segurar uma vassoura ou uma caneta-tinteiro. Falar ou ficar em silêncio, consertar ou dar um sermão, curar uma pessoa doente ou digitar. Tudo isso é apenas a casca da esplêndida realidade, o encontro da alma com Deus, renovado a cada minuto, crescendo em graça, cada vez mais belo para seu Deus. Eles tocam? Rápido, vamos abrir: é Deus que vem para nos amar. Uma informação? …aqui está: é Deus que vem nos amar. Já está na hora de comer? Vamos lá: é Deus que vem nos amar. Vamos deixá-lo!»
Pe. Maicon A. Malacarne