O padre e poeta David Turoldo escreveu com razão que «acreditar é entrar em conflito». Não que o conflito seja o ponto de partida de quem tem fé, de maneira nenhuma! O conflito, as rupturas, as descontinuidades são consequências de quando se assume um estilo de vida com fidelidade!
É dentro desse contexto e da proposta que Jesus assumiu que compreendemos as palavras difíceis do evangelho de hoje: «Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! (…) Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão».
É espantoso e dramático ouvir Jesus falando de incendiar e de dividir! Quando o evangelho de Lucas foi escrito, essa era a realidade das pequenas comunidades: perseguidas, condenadas e mortas pela fé. Esse é o ponto! Acreditar em Jesus não era ser neutro com as barbáries do Império Romano, mesmo que isso significasse romper com pessoas da própria família. A paz não vem em permanecer em cima do muro. Já Dante, na Divina Comédia, escreveu: «os lugares mais sombrios do Inferno são reservados àqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise moral».
Seguir Jesus significa assumir uma proposta de vida, de paz, de compaixão, de misericórdia, de perdão de justiça e de verdade que, hora ou outra, vai exigir enfrentamentos e rupturas que podem ser como que um «fogo» para nossa vida! E é preciso se queimar para não ficar à margem de nós mesmos! É sobre essa exigência que escreveu o Papa Francisco: «mas não podemos fazer um cristianismo um pouco mais humano – dizem – sem cruz, sem Jesus, sem despojamento? Dessa forma nos tornaríamos cristãos de pastelaria, como lindos bolos, como boas coisas doces! Muito lindos, mas não cristãos verdadeiros».
A fé não pode ser uma aparência, um disfarce, uma máscara… hora ou outra vai exigir tensões para tornar-se um verdadeiro estilo de vida!
Pe. Maicon A. Malacarne