Kafka, conversando com seu amigo Gustav, disse: «Jesus é um abismo de luz, você tem de fechar os olhos para não cair nele!» Esse movimento entre luz e escuridão, entre abismos e planícies é próprio da fé. Uma fé viva é uma fé de oscilações, contudo, uma fé que sabe encontrar as suas razões!
O evangelho de João guarda esse encontro profundo e «noturno» entre Jesus e Nicodemos (Jo 3,7-15). Como temos acompanhado, o texto sublinha que o primeiro encontro entre eles aconteceu «à noite» (3,2). Mais tarde, depois da crucificação de Jesus, Nicodemos apareceu ao lado de José de Arimatéia carregando o corpo de Jesus da cruz para a sepultura (19,38-42). Antes disso, no meio das trocas de acusações sobre Jesus, Nicodemos o defendia entre os importantes do Templo (9,50).
Nicodemos fez da sua vida uma procura por Jesus! Esse discernimento sempre ativo aponta na direção de uma vida nova, um «nascer de novo», um excesso do bem na realidade de cada dia. Interessante que na Carta a Diogneto, um impressionante relato de como viviam os primeiros cristãos, é possível ler: «eles obedecem às leis estabelecidas e, com seu modo de vida, excedem essas leis. Eles amam a todos e todos os seguem…»
É de dentro da vida, da cultura, do contexto (que configura a lei), que os cristãos «excedem». O excesso é por causa do amor! De fato, essa é a experiência mais real e concreta do «nascer de novo» que Jesus insistiu a Nicodemos – trata-se de aprender amar, configurar-se ao amor e comunicar o amor, especialmente onde ele está mais ferido!