Depois de enganar seu irmão Esaú, Jacó começou um roteiro de fuga! Cansado da viagem, acompanhado de um possível peso de consciência, Jacó decidiu passar a noite em um lugar deserto. Fez um travesseiro de pedra e dormiu. Em sonho, teve uma visão: «viu uma escada apoiada no chão, com a outra ponta tocando o céu e os anjos de Deus subindo e descendo por ela». Trata-se do texto da primeira leitura de hoje (Gn 28,10-22). Jacó acordou cheio de pavor: «este lugar é terrível!» De fato, a experiência do sonho revelava a presença de Deus que tinha prometido a descendência aos seus antepassados: «Eu sou o Senhor, Deus de Abraão, teu pai…»
A escada de Jacó foi objeto de muita pesquisa de estudiosos da Bíblia, também de escritores, poetas, músicos, pintores e escultores. Elie Wiesiel, Nobel da Literatura em 1986, utilizou a imagem para escrever sobre a relação da música com a Palavra de Deus. Para ele, os anjos de Deus «esqueceram-se» de tirar a escada e ela tornou-se a escala das notas musicais: por ela, Deus «desce» para comunicar-se conosco e nós «subimos» para alcançar Deus.
São Bento usou o exemplo da escada de Jacó na sua Regra para falar da humildade e do orgulho. O que «desce», ou, diminui a humanidade é o orgulho e o que faz «subir», ascender é a humildade. Quem se acha superior, minado de prepotência, no fundo, jamais conseguirá experimentar a presença de Deus!
Gosto de rezar a imagem da escada como uma ampliação da vida! Tudo que é gerador de vida, ascende! Tudo que diminui a vida é descenso! Jacó, na crise que estava vivendo, fez o «terrível» discernimento que a sua vocação era gerar descendência e fidelidade e não se perder no poder e no orgulho. O sonho de Jacó abre a gramática do evangelho, do sonho de Jesus de uma humanidade «elevada»: «Jesus entrou, tomou a menina [que estava morta] pela mão e ela se levantou».
Pe. Maicon A. Malacarne