No meio de uma discussão com os fariseus, Jesus tomou a decisão de «se dirigir para outra margem» (Mc 8,11-13). Não se trata de fugir de um conflito, mas de compreender onde se deve gastar mais o tempo da vida. Jesus tinha entendido que a cabeça fechada com certezas intocáveis dos fariseus não permitia a abertura para a novidade do Reino de Deus. Apegados aos «sinais» exteriores, os fariseus não conseguiam penetrar no sentido, compreender a profundidade, sair do fundamentalismo que é próprio de uma vida apequenada.
O grande sinal que Jesus continua convidando a interpretar é a vida – a vida como ela é – com as provações e crises, como diz São Tiago, oportunidade que «produz em vós a perseverança» (1,1-11). É a vida o sinal maior de Deus e, por isso, em muitas ocasiões, não vale a pena gastá-la em conflitos que não levam a lugar nenhum.
Seguir para outra margem é escolher a dinamicidade de uma vida livre, a abertura para atravessar o «sempre mesmo» e experimentar a novidade que o caminho oferece. O maior sinal de Deus é caminhar adiante! Quando de frente a uma situação difícil, mais do que a espera mágica por sinais exteriores, o convite é empenhar-se em traduzir o amor de Deus com gestos que são geradores de mais vida.
Esse movimento provocado pelo evangelho faz lembrar aquela oração fascinante de Madeleine Delbrêl, que se torna também nossa oração para hoje: «Senhor, dá-nos viver nossa vida, não como um jogo de xadrez; onde tudo é calculado; não como uma competição onde tudo é difícil; não como um teorema que nos quebra a cabeça, mas como uma festa sem fim onde nosso encontro se renova, como um baile, uma dança, entre os braços da tua graça, na música universal do teu amor. Senhor, vem tirar-nos para a dança».
Pe. Maicon A. Malacarne