Ronald Barthes dizia que «os que amam estão sempre esperando». Esperar é a escola de quem se sabe incompleto! Quem se sente pronto não tolera esperar! Quem está fechado não aguenta esperar! A Simone Weil escreveu que «as coisas mais importantes do mundo são para esperar». Simeão e Ana, do evangelho de hoje, são a metáfora de uma vida à espera! Quando encontraram o Menino Jesus, exultaram de alegria e glorificaram a Deus porque alcançaram a salvação dos que esperam!
Na liturgia deste domingo, festa da Sagrada Família, José e Maria apresentam o Menino Jesus no Templo, conforme escrevia a lei judaica sobre os filhos primogênitos do sexo masculino (Lc 2,22-40). A fidelidade a lei é um dos traços importantes para compreender o fato de Deus ter escolhido uma família para vir ao mundo – uma família pertencente a certa cultura, que falava uma língua específica, que era organizada dentro de determinados códigos e preceitos, também religiosos, como a participação na Sinagoga e a dinâmica do Templo.
Com Jesus, no entanto, aparece uma novidade: aos poucos, a lei, traduzida pelo «fazer», vai abrindo espaço para a vida, traduzida pelo «ser». A encarnação de Jesus provocou a reviravolta: «destruirei este Templo e o reconstruirei em três dias» (Jo 2,19). A nova casa de Deus, novo Templo, é Jesus, o Cristo! De fato, Deus havia prometido descendência a Abraão e Sara, havia anunciado a construção da sua tenda para Davi, e em Jesus toda espera encontra sentido e plenitude.
A passagem do fazer para o ser é uma grande tarefa e uma espiritualidade para viver diariamente. Ser significa viver com liberdade e assumir as contradições da vida sem mascarar ou anestesiar a realidade! Ser é a tarefa fundamental da espiritualidade: ser profundo, ser oração, ser meditação, ser relação. Em Jesus, o ser também carrega a gramática da espera! A espera é a lenta passagem da resignação para a acolhida, do adormecimento para o erguimento, de quem assume e abraça o fogo da ferida e o remédio da consolação: ser tudo em tudo!
Pe. Maicon A. Malacarne