O evangelho de hoje coloca em contraste a Lei e Jesus (Lc 2,22-35). José, Maria e Simeão, no Templo, desenham o quadro da Lei, palavra repetida cinco vezes, para assegurar que a fidelidade a religião significava cumprir rigorosamente o que estava estabelecido. Ao ser apresentado, Jesus inaugurava uma experiência nova: não é a Lei, não é a ortodoxia, não é o Templo, não são os ritos, não é a exterioridade, mas é uma pessoa que viveu em tudo a misericórdia e o amor! Jesus é uma criança frágil que estabelece um novo ponto de partida – a carne humana!
O ponto de viragem está nesta imagem tremenda: «Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus». A grandeza de Deus é avassaladora: cabe nos braços de um idoso! Que potência: não é o velho Simeão nos braços de Deus, mas Deus nos braços de Simeão! Deus frágil, Deus pequeno, Deus carne da nossa carne! Vem de imediato na minha oração a poesia do Fernando Pessoa: «Ele é a eterna criança, o Deus que faltava/ Ele é o humano que é natural/ Ele é o divino que sorri e que brinca/ (…) E a criança tão humana que é divina».
O velho Simeão, homem da Lei, apresentava ao mundo a novidade com um canto de exultação. É a metáfora do passado, do presente e do futuro: Deus quer caber nos meus braços! Deus precisa do meu colo! Deus conta com o meu amor! «Vou ajudar-te, ó Deus» rezava a Etty no campo de concentração. O pastor luterano Dietrich Bonhoeffer era ainda mais ousado: «Deus é impotente e fraco no mundo, e somente assim está connosco e nos ajuda». A fragilidade é o lugar do «abaixamento», categoria utilizada por Paulo, tão bem evidenciada no evento do lava-pés. A espera de Simeão não se realizou na potência, senão na sua total inversão. Maria também precisou viver essa transformação, escolher a fragilidade do Filho, até aos pés da cruz, significado da profecia do mesmo Simeão: «uma espada te transpassará a alma».
«Simeão tomou o menino nos braços», rezemos com essa imagem! Deus nos braços, Deus frágil, Deus serviço, Deus amor… segurá-Lo é segurar-me! Levantá-Lo é levantar-me!
Pe. Maicon A. Malacarne