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80 anos depois, a «firmeza» de Etty Hillesum

Em 30 de novembro de 1943, a Cruz Vermelha comunicou a morte de Etty Hillesum, no campo de concentração de Auschwitz. Etty tinha 29 anos. A jovem holandesa que viveu um profundo percurso espiritual e humano, narrado através das longas páginas do seu Diário, é um oceano a ser descoberto.

O evangelho de hoje, um discurso de Jesus aos discípulos, conclui: «é permanecendo firmes que ireis ganhar a vida» (Lc 21,12-19). A firmeza de Jesus não era o apego a força, ao exército, mas a fidelidade e a confiança em construir o Reino de Deus, sinal de vida para todas as pessoas. Um Reino que cresce no silêncio da semente, na permanente tensão com as tragédias da vida.

«Cada átomo de ódio que acrescentamos a este mundo o faz ainda pior do que ele já é», escreveu Etty em 23 de setembro de 1942. De fato, o ódio com que os exércitos nazistas atuavam, geravam inúmeros sentimentos de vingança. Para Etty, o caminho era outro: com a vida, favorecer percursos de transformação. O Diário narra a descoberta da escrita, da leitura e meditação da Bíblia, de poetas (especialmente, Rilke), de autores clássicos (como Agostinho) que transformaram por dentro «a jovem que não sabia ajoelhar» e que descobriu «o céu dentro de mim».

80 anos depois, Etty é uma cartografia do real. O mundo produz ódio em escala sempre maior e a imensa maioria não consegue senão pensar em vingar. A firmeza do evangelho, expressada de maneira impressionante por Etty, é encontrar uma estrada possível, mais difícil, mais exigente, que possibilitará uma felicidade mais duradoura.

O Papa Bento XVI, em 13 de fevereiro de 2013, escreveu sobre Etty:

«Na sua vida dispersa e inquieta, ela encontra Deus precisamente no meio da grande tragédia de Novecentos, o Shoah. Esta jovem frágil e insatisfeita, transfigurada pela fé, transforma-se numa mulher cheia de amor e de paz interior, capaz de afirmar: ‘Vivo constantemente em intimidade com Deus’».

De fato, essa é a grande firmeza! Etty viveu tudo e integrou tudo! «Ganhou a vida»!

Pe. Maicon A. Malacarne

1 comentário em “80 anos depois, a «firmeza» de Etty Hillesum”

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