Em 1947, Albert Camus lançou um livro chamado «A peste». Trata-se da história de Oran, uma cidade na Argélia, que foi tomada por uma peste transmitida pela invasão de ratos. A narrativa vai sendo contada por um médico, Bernard Rieux. Muitas pessoas começaram a morrer e, com o passar dos dias, a descrença tomou conta: «não há nada que se possa fazer!» Com a cidade totalmente isolada, famílias aos pedaços, sem comunicação, todos esperam a iminência da morte. Um dos amigos de Rieux, o padre Paneloux, endossa a famigerada ideia de que tudo era por causa dos pecados das pessoas. No final da história, quando as coisas tinham piorado muito, Dr. Rieux disse ao padre: «trabalhamos, trabalhamos com muito amor, com muita caridade conforme você sugeriu. Mas, por favor, não me fale mais de esperança, de amor sim, de esperança não»!
O que pode nascer da tragédia? É verdade que a vida é essa mistura de confusão e de harmonia, de escuridão e de luz. Há momento em que nada tem sentido e parece não sobrar «pedra sobre pedra», como escreve o evangelho de hoje. A destruição, as disputas, as guerras, os conflitos, os terremotos, a fome, a peste levaram Jesus a assegurar: «embora muitos prefiram anunciar a desgraça, este não é o fim!» (Lc 21,5-11).
O destino é o amor… um amor que nasce de dentro do desequilíbrio que a vida precisa enfrentar. A crise é da natureza da vida! É precisamente este o momento, o ponto de viragem! Não se trata do elogio ao sofrimento, muito menos de afirmar que é preciso sofrer para ser feliz. Nas turbulências se pode encontrar um caminho, um feixe de luz!
A desesperança do Dr. Rieux, cuja chave de leitura deve ser a tragédia da segunda guerra mundial, é uma metáfora para o salto da fé, traduzida lindamente pelo Pe. Ermes Ronchi: «esta história não terminará em caos, mas dentro de um abraço que tem o nome de Deus». Não vamos desistir!
Pe. Maicon A. Malacarne