Um homem nobre partiu para ser coroado rei, chamou dez empregados e deu cem moedas de prata para cada um com este objetivo: «negociem até que eu volte». Ao voltar, encontrou o primeiro que apresentou o valor que tinha rendido dez vezes. O segundo tinha rendido cinco vezes. O terceiro, cheio de medo, disse: «Senhor, aqui estão às tuas cem moedas que eu guardei num lenço, pois eu tenho medo de ti, porque és muito severo».
A parábola dos talentos, do evangelho de hoje, diz alguma coisa muito importante para a forma como vivemos a fé (Lc 19,11-28). Nalgum momento podem ter nos ensinado e guardamos a ideia de que Deus é um Pai severo e punitivo. A resposta que rapidamente encontramos é do fechamento, porque é difícil lidar com quem é implacável. O bloqueio é o contrário do «fazer render», vocação mais bonita a que fomos criados.
Render é tornar a vida fecunda! É descobrir que temos um Pai que confia em nós e não um pai que nos desconfigura e castiga. Render é ser o que somos, no sim e no não, sem tapar, sem esconder «nos lenços» da nossa história. Deus não é um juiz do medo! Hoje é o dia para rezar essa palavra e curar essa imagem que tem feito sofrer: temos um Pai que confia em nós! Temos um Pai que nos ama!
A memória de Santa Cecília, padroeira dos músicos, é testemunho de uma vida que «rendeu» no amor e na fidelidade da fé, até o martírio. Uma famosa escultura de Stefano Maderno guarda a imagem de Cecília decapitada fazendo, com a mão, o sinal de três. Vida entregue na Trindade, na comunhão, como de quem entendeu que a vida não pode ser fechamento e redução, mas sempre expansão, sempre maior: «não se pode expressar por palavras aquilo que se canta ao coração», escreveu Santo Agostinho, dos Comentários dos Salmos, do Ofício das Leituras de hoje.
Pe. Maicon A. Malacarne