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Todos, todos, todos…

“A Igreja tem de ser um espelho das encruzilhadas do mundo”, dizia o Pe. José Tolentino Mendonça, na Capela do Rato, em Lisboa, antes de ser eleito cardeal. Na mesma Lisboa, em julho passado, o refrão do Papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude, ressoava: “a igreja é de todos, todos, todos!”. De fato, no evangelho deste domingo, acolhemos mais uma parábola de Jesus: um rei preparou uma grande festa de casamento para o seu filho (Mt 22,1-14). Com a recusa de todos os convidados, o rei disse aos empregados: “ide até as encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes”. Todos são convidados, bons e maus, a única exigência do rei é “o traje de festa”.

A imagem da festa, do banquete, da comida, da bebida, da mesa, de pessoas reunidas, atravessa toda a Liturgia da Palavra. São desenhos do cotidiano que formam a cartografia de Deus. Christoph Theobald, um dos maiores teólogos do nosso tempo, reflete o “cristianismo como estilo”, ou seja, ser cristão é uma forma de habitar o mundo, uma maneira de viver o cotidiano, um conteúdo que se vive na prática, no jeito de ser. A festa de Deus é para todos, é a festa da terra e do céu. O “traje” exigido pelo rei não é uma exterioridade, senão a capacidade de ser livre no amor, tal como a experiência nupcial.

“Vinde para a festa” é o convite de Deus! O rei não faz um catálogo de puros e impuros… Todos, todos, todos! Mais importante do que a resposta de cada convidado – muitos não quiseram ir – é o convite do rei. O convite do rei dá a mesma dignidade a cada convidado, todos são importantes, todos são únicos, todos cabem no amor. Deve ser esta a tarefa da comunidade cristã, nunca separar, nunca dispersar, sempre abrir, sempre ser espaço da alegria de Deus.

 Nestes dias tão difíceis da humanidade sufocada em guerras atravessadas por discursos religiosos, com a sensação de impotência, é importante pedir a graça do discernimento e do compromisso de não reproduzir separações, não alimentar o ódio, não propagar disputas, mas “habitar” a veste da humanização, o estilo da reconciliação, melhor caminho para a vida divina, vida realmente nova.

Pe. Maicon A. Malacarne

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