O evangelho de hoje é um texto tremendo, de balançar a arquitetura da vida, e não deixa de ser uma lembrança sobre a importância das escolhas e das prioridades (Lc 10,38-42). Trata-se do encontro de Jesus com Marta e Maria, em Betânia. Jesus estava entre amigos! De fato, o primeiro convite para a oração vem da amizade, essa dinâmica vital que desenha o sentido para toda existência. A amizade é uma experiência de Deus! Jesus, em Betânia, faz pensar o lugar, o tempo e o significado dos amigos. Betânia é o mapa da sinodalidade, da acolhida, do amor, da escuta, que, nalguns momentos, só a amizade é capaz de alcançar!
Marta e Maria somos todos nós! São duas formas de viver! Jesus não disse que uma era melhor do que a outra, mas, na liberdade da amizade, chamou atenção de Marta: «tu te preocupas, anda agitada demais»! Sugeriu que Maria tinha escolhido a «melhor parte», porque se mantinha perto dele, num aparente «fazer nada». Durante muito tempo esse texto foi lido como imagem de dois opostos: Marta, a mulher da ação e Maria, da contemplação! No entanto, se permanecemos no texto, o que salta os olhos não são os opostos, mas a síntese que é a «melhor parte».
Marta estava muito agitada e sua pressa fazia perder o tempo do diálogo e do encontro. A questão central não era Marta estar na cozinha, no meio das panelas, na preocupação com a refeição… ali também é possível a «melhor parte». Também não é só a atitude de se sentar aos pés de Jesus que garante a «melhor parte».
A «melhor parte» é a disposição integral de, do meio das nossas tarefas de todos os dias, alcançar um olhar, uma quietude de coração capaz de perceber quantas coisas Deus já realizou e Deus continua realizando. A «melhor parte» é conseguir serenidade, discernimento e olhos abertos para o mundo, ainda que pleno de contradições!