A vida de Jesus foi marcada por “firmes decisões”, como aquela do evangelho de hoje: “tomou a firme decisão de partir para Jerusalém” (Lc 9,51-56). Deste momento, o texto de Lucas coloca Jesus nessa grande viagem até a plenitude da sua vida com a paixão, morte e ressurreição. Toda nossa vida é articulada em pequenas e grandes decisões. Elas são fundamentais para orientar o que somos na direção de um bem maior.
Neste início de percurso, alguns discípulos foram buscar lugar para descansar em território samaritano. A narrativa é atravessada pela diferença cultural e religiosa – samaritanos e judeus viviam uma histórica separação – e os samaritanos não quiseram acolher Jesus porque “dava a impressão que ia para Jerusalém”. Bastou uma primeira falta de acolhida para ativar a severidade de Tiago e João: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?”.
A rigidez de Tiago e de João diante do fechamento dos samaritanos é um sinal de alerta sobre como é fácil cair na tentação da intolerância. É verdade que as diferenças são sempre espinhosas, no entanto, da escola do evangelho, aprendemos sobre a unidade na diversidade. A compreensão das diferenças não é uma ameaça. Ainda hoje, por exemplo, com todo discernimento sobre o ecumenismo, muitos o desenham como um monstro que vai destruir a identidade.
O Concílio Vaticano II, em 1965, aprovou uma declaração chamada “Nostra Aetate”, sobre a Igreja e as religiões não cristãs, que diz: “Não podemos, porém, invocar Deus como Pai comum de todos, se nos recusamos a tratar como irmãos alguns homens, criados à Sua imagem. A Igreja reprova, por isso, como contrária ao espírito de Cristo, toda e qualquer discriminação ou violência praticada por motivos de raça ou cor, condição ou religião”.
A Tiago e João, “Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os”. Caminhar para Jerusalém significa enfrentar todas as contradições e atravessar todos os fechamentos, dando testemunho de acolhida e de amor até o fim. Cuidar e curar as nossas intolerâncias é um caminho espiritual muito exigente e que precisa ser levado a sério. Talvez seja a “grande decisão” para tomar, hoje!
Pe. Maicon A. Malacarne