Em «Carta a Lotte Hepner», datada de 8 de novembro de 1915, Rilke interrogava: «Se somos, sem cessar, falhos no amor, inseguros nas decisões e incapazes diante da morte, como é possível existir?» As sempre novas questões sobre a condição – e contradição – humana são companhias inseparáveis de pensadores, escritores, teólogos, artistas, poetas…
Ao anunciar a morte na cruz, também Jesus sugeriu um itinerário para os seus discípulos, a fim de alcançarem uma vida realizada (Mt 16,24-28). Os verbos do evangelho sublinham o próprio movimento da condição humana: perder, encontrar, salvar, renunciar. No centro está «seguir»! O seguimento de Jesus, em palavras e atos, vai exigindo a «renúncia de si», ou seja, a centralidade do outro, a comunhão, a vitória contra a autorreferencialidade; e, «tomar a cruz», assumir a vida no amor e ofertá-la até o fim!
«Ganhar a vida», para Jesus, significa «perder»! Não se trata de uma apologia a derrota e ao fracasso, mas a maturidade de «gastar-se», «perder-se», «diminuir-se» para que cresça o amor, cresça o bem, cresça a esperança. É a vocação a abrir a vida!
Na oitava Elegia de Duíno, o mesmo Rilke, iniciou, dizendo: «com todos os seus olhos, a criatura vê o aberto». Se estamos fatigados com as exigências de ganhar, ganhar, conquistar, conquistar… Jesus recorda que o movimento, talvez, pode ser diferente: descentralizar-se e, como diz o poeta, ver o aberto, que é sempre um ver melhor, um viver maior!