«Conhece-te em mim» disse Jesus para Santa Teresa d’Ávila, no registro de uma das mais bonitas poesias, VIII, das suas Obras Completas. É uma sensibilidade abissal perceber que a nossa maior verdade é viver a verdade da vida como um grande mergulho na verdade de Deus!
De fato, esta é a mais exigente tarefa da espiritualidade – a verdade do coração, a verdade das intenções! Nossa humanidade gosta de máscaras, gosta de disfarces! É através do coração que faz sentido rezar a Palavra de Deus, viver a Eucaristia, celebrar os sacramentos, conviver em comunidade, empenhar-se no amor. Fora do «coração» não há espiritualidade! O cansaço da fé pode ser consequência de uma espiritualidade focada em exterioridades, em um ou outro ato, esquecendo da verdade de todas as coisas.
A dificuldade que Jesus tinha com os fariseus e os escribas (Mt 15,1-2.10-14) era por causa do afiadíssimo rigor da lei, na facilidade de avaliar e de julgar os que cumpriam ou não algumas normas exteriores, e, assim tornavam-se exemplos do que está mais distante de Deus: «são cegos guiando cegos». O destino deles era «o buraco», ou seja, o lugar onde a vida é reduzida a nada.
Sobre a crítica de os discípulos «não observarem a tradição dos antigos», como lavar as mãos antes das refeições, Jesus respondeu: «não é o que entra pela boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca». De fato, a escola do evangelho dá o salto dos apegos exteriores para o grande esforço de transformar o coração, ou, parar de fixar-se nos efeitos e compreender as causas. Deus não é um juiz, não é um avaliador de transgressores de leis, mas é um Pai de verdade! Nossa vocação é ser, de verdade, filho! Nossa vocação é ser!
Os fariseus e os escribas permanecem, desde sempre, no meio de nós, e, talvez, somos também nós! O evangelho é um caminho para tornar-se, livremente, filho e superar a tentação das grades da escravidão das normas!
Pe. Maicon A. Malacarne