A resposta de Jesus aos fariseus que acusavam os discípulos de violar a lei do sábado se configura em uma das grandes inversões indicadas pelos evangelhos: «quero a misericórdia e não o sacrifício» (Mt 12,1-8). Jesus olha para a lei a partir da necessidade das pessoas, no caso, a fome dos discípulos que foram apanhar espigas para comer.
É muito fácil cair na armadilha do legalismo e da rigidez! A vida rígida é tentadora porque ela aparenta trazer segurança, mas, no fundo, é somente um pó para esconder os vazios. De fato, quem é muito rígido, gosta de ser rígido com os outros, mas é muito benevolente consigo mesmo. O psicanalista italiano Massimo Recalcati analisa com categoria: «o sacrifício torna-se patológico quando gera uma satisfação no sujeito e se torna critério de superioridade moral em relação aos outros».
O Deus de Jesus Cristo só pode ser conhecido e amado através da misericórdia. «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36). A misericórdia é uma via de mão dupla: ao lançar-nos na direção do outro, reconhecemo-nos a nós mesmos necessitados de misericórdia. A misericórdia ajuda a descobrir no outro um irmão e uma irmã que substitui o rápido gatilho do julgamento, próprio da rigidez.
Misericórdia, misericórdia… não a frieza e a rigidez da lei! Lucia Mondela, prometida em casamento a Renzo, protagonista de um dos romances mais importantes da história italiana, Promessi Sposi, de Alessandro Manzoni, dizia que «Deus perdoa muitas coisas por uma obra de misericórdia».
Pe. Maicon A. Malacarne