A narrativa da primeira leitura recolhe trechos que fazem parte da história do conhecido José do Egito (Gn 41,55-57;42,5-7a.17-24a). Ele havia sido vendido por seus irmãos, mas, com o passar do tempo, tornou-se o grande administrador dos bens do faraó. A leitura inicia dizendo que «todo Egito começou a sentir fome». Também os irmãos de José começaram viver a carestia e, sem saber, foram pedir ajuda «ao administrador». O texto desvela esse encontro: ao contrário deles, José logo os reconheceu. O que parecia se tornar o momento da vingança, transforma-se em lugar de discernimento.
De fato, José, depois de prendê-los por três dias, entregou o trigo que procuravam para matar a fome, mas pediu que «buscassem o irmão mais novo». José era o irmão mais novo! O diálogo que segue, entre os irmãos, é revelador da tomada de consciência do erro cometido: «Sofremos justamente estas coisas, porque pecamos contra o nosso irmão: vimos a sua angústia, quando nos pedia compaixão, e não o atendemos».
A narrativa dá o salto da punição para o amadurecimento: é preciso ser sensível com as angústias que vivemos! As angústias são chaves para acessar planos mais profundos da vida! Não atender as angústias é um anestésico, nunca cura a ferida, apenas disfarça a dor! Se o texto revela uma falta de responsabilidade e de fraternidade na relação entre os irmãos, a angústia é, também, um rio interior que precisa ser navegado!
Ao constituir o grupo dos doze (Mt 10,1-7), Jesus sinalizou que todos os discípulos devem ser mestres da sensibilidade, na atenção as dores do mundo, no respeito ao tempo e a história de cada pessoa. A maior notícia a ser anunciada não é uma doutrina ou uma teoria, mas «o Reino dos Céus está próximo», Deus está sempre conosco!
Pe. Maicon A. Malacarne