Os Padres do Deserto foram um dos grupos que viveu o cristianismo com mais radicalidade nos primeiros séculos, habitando em pequenas cabanas, retiradas, no meio do deserto. Uma vida dedicada a oração e ao trabalho. De tempos em tempos, se visitavam, também como forma de acompanhamento espiritual. Em um desses encontros, Abba Lot perguntou a Abba José: «Abba, eu rezo todos os dias, digo o ofício, jejuo, purifico os meus pensamentos do pecado, vivo em paz, o que me falta fazer?» Abba José, então, ergueu os braços ao céu e seus dedos pareciam dez pequenas lamparinas, em seguida, disse: «se quiser, você pode se tornar inteiro de fogo»!
É potente essa imagem: tornar-se inteiro «de fogo»! Fazer tudo «com fogo»! A vida cristã é acolher e viver «o fogo» de Jesus Cristo, a vida divina, o Espírito Santo. Parece ser uma vida sempre igual, mas é infinitamente diferente. De fato, no dia de Pentecostes, aos discípulos reunidos «apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo» (At 2,3). Esse acontecimento não é um ilusionismo! O «fogo» tornou-se a capacidade daquelas pessoas tomarem consciência que poderiam fazer coisas que jamais poderiam imaginar: «começaram falar em outras línguas» (At 2,4). O medo, a vergonha (o peso do primeiro pecado de Adão e Eva) são reconciliados, visitados e salvos no Espírito Santo com a nova missão da comunidade cristã: traduzir e comunicar o Senhor a partir «do fogo»!
Aqui está o início de tudo: o Pentecostes! Tem um antes e um depois de Pedro, de João, de Madalena, da samaritana e de tantos outros que é o «antes do fogo» e o «depois do fogo». O «fogo» é a integração dos pedaços, das fraturas que nos habitam! O fogo é a potência de «colar» o humano e o divino! O fogo é a eficácia de tornar tudo «uma coisa só»! Cada pessoa, acolhendo «o fogo», é habitação de Deus! A vida nunca mais será a mesma!
Evangelizar é facilitar a experiência do «fogo»! No fundo, o Espírito Santo é Cristo, desde sempre e para sempre! É a Páscoa sem fim!
Pe. Maicon A. Malacarne