Depois do discurso na Sinagoga de Cafarnaum, o evangelho de hoje (Jo 6,60-69) apresenta uma cena dramática para Jesus: muitos começaram a ir embora! A resposta era «esta palavra é dura»! É o momento que Jesus também pergunta aos doze discípulos: «vocês também querem ir embora?»
De fato, Jesus não implora a permanência, mas insiste na importância de escolher – ir ou ficar! Ele não teme ficar sozinho! A liberdade é a vocação mais próxima do coração de Deus! É preciso escolher porque uma fé «em cima do muro» não pertence ao coração do evangelho. Todos os dias somos chamados a escolher novamente – ir ou ficar? A resposta de Pedro pode ser um grande mapa para percorrer: «a quem iremos, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna!» Ter «só» Jesus, na verdade, é ter «tudo»! Suas palavras se tornam a gramática de um novo estilo de vida, de um Deus bem próximo que se pode chamar de Pai.
O evangelho de hoje recorda algo fundamental: toda vida guarda fracassos, nem tudo é sucesso, mas, sobretudo, nem todo fracasso é um ponto final e nem todo sucesso significa que tudo está perfeitamente realizado. Também Judas escolheu ficar.
O filósofo Ortega y Gasset sugere a imagem do nadador diante de um naufrágio: «Naufragar não é afogar-se. O pobre humano, sentindo-se a submergir no abismo, agita os braços para manter-se à superfície. Esta agitação dos braços com que reage à possibilidade da sua perda… é já a salvação».
«Só Tu, só Tu…» é a nossa forma de agitar as mãos, hoje, na direção de Deus. Não obstante os nossos fracassos e naufrágios, as nossas dificuldades em escolher ir ou ficar, peçamos a graça de saber confiar totalmente: só Tu…!
Pe. Maicon A. Malacarne