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A fé de Emaús!

O Karl Jaspers, que foi um importante filósofo e expoente de uma corrente chamada ‘existencialismo’, gostava de dizer que a onipotência de Deus, ou seja, seu poder supremo e absoluto, seria melhor traduzido como ‘oni-amante’ ou ‘oni-abraçante’. Jesus Cristo é quem revela esse rosto de Deus para a história!

De fato, no evangelho de hoje, o vemos caminhando bem próximo de dois peregrinos que voltavam de Jerusalém até Emaús (Lc 24,13-35). Era o mesmo dia da crucificação de Jesus e eles estavam ‘indo embora’, ‘desistindo de tudo’, as forças tinham terminado. O terceiro caminhante se aproximou e eles não reconheceram que era Jesus. Com o barulho dos passos na terra, o Ressuscitado escutou as desilusões, acolheu a tristeza, sugeriu um discernimento através da hermenêutica das Escrituras – ‘começando por Moisés e pelos profetas’ – permaneceu na casa deles, rezou e repartiu o pão, momento em que ‘os olhos se abriram e reconheceram que era Jesus’.

Os peregrinos de Emaús eram apegados demais as suas verdades de olhar fixado no passado: ‘nós esperávamos’, ‘nós pensávamos’, ‘nós queríamos…’ As certezas podem ser muito perigosas porque geralmente elas vêm acompanhadas do fechamento, de posturas inquestionáveis, de estilo frio e irredutível. Também é assim com Deus – criamos imagens, desejos, expectativas que, às vezes, nos impedem de reconhecer o próprio Deus.

Jesus, nas estradas de Emaús, no caminho ‘para a maturidade’, anunciava uma fé que é mais mistério do que certeza, é mais abertura do que obstáculo, é mais liberdade do que burocracia, é mais Palavra do que discursos, é mais Pão repartido do que ritualismo, é mais presente do que passado! De verdade, no Ressuscitado, aprendemos o conteúdo de uma fé que é atravessar a nossa cruz, amar até o sofrimento e a dor para encontrar os remédios da consolação.

Um dos contos de Hassidim, da tradição judaica, muito querido por Martin Buber, registra essa anedota: ‘Se eu fosse ao mestre, não era para aprender noções ou ideias, mas era para ver como ele calça suas sandálias e como ele as solta’. Em Jesus, encontramos o Mestre das sandálias, o Deus das estradas, ‘oni-amante’ e ‘oni-abraçante’, que transforma toda força de acúmulo e fechamento em potência de partilha e ressurreição.

Pe. Maicon A. Malacarne

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