O encontro (Jo 3,1-8) entre Jesus e Nicodemos, fariseu e chefe judaico, é um programa de vida cujo itinerário é passar da escuridão para a luz. De fato, o diálogo «à noite» evoca a tensão entre as forças que tentavam anular a proposta de Jesus e a força da luz, traduzida em práticas de amor, de misericórdia, de diálogo, de vínculos e de humanização.
Ao responder Nicodemos sobre os sinais que realizava, Jesus disse: «se alguém não nasce do alto não pode ver o Reino de Deus». Nicodemos, confuso se o «nascer de novo» significava «voltar para o ventre da mãe», acolheu uma nova resposta de Jesus, como que um passo adiante: «se alguém não nasce da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus».
Aprendemos de Jesus que a primeira forma de «iluminar», de habitar a noite com fendas de luz, é acolher as perguntas da humanidade! As inquietações, medos, desesperanças de Nicodemos encontraram lugar no coração de um Mestre que tinha sempre seu ponto de partida na pessoa humana.
É dessa horizontalidade do amor de Jesus que vem o convite – nascer do alto, da água e do Espírito. O novo «nascer» é batismal e pascal, ou seja, é sempre maior daquilo que podemos enxergar, é sempre marcado pelo Mistério, gerado no ventre amoroso do Pai e amadurecido na consciência dos territórios das sombras. Etty Hillesum, de dentro do campo de concentração nazista, sofrendo os absurdos da dor humana, registrou no seu Diário: «Existirá sempre também aqui uma porção de céu que se poderá olhar». Etty é uma iconografia de quem descobre o significado de «nascer do alto».
Trata-se daquele «mais» que um seguidor de Jesus deve ser no mundo! Não um «mais» de aparências, mas de quem se descobre em contínuo nascimento, um nascimento que precisa tempo, silêncio, oração, coragem de perdoar, gestos de caridade… Precisa, sobretudo, estar bem perto das grandes perguntas da humanidade. É onde tudo começa!
Pe. Maicon A. Malacarne