Noé é uma grande metáfora da vida! A vida que sobrevive ao trágico, a vida que surpreende o caos, a vida que percebe que sempre há uma luz. A história da Arca de Noé que toma parte da primeira leitura de hoje (Gn 6,5-8;7,1-5.10) pode facilmente enganar! A leitura rápida e superficial acentuaria a construção da Arca como um castigo de Deus: «O Senhor viu que havia crescido a maldade do homem na terra».
Na verdade, a arca é a brecha que Deus encontra para salvar, porque sempre se pode salvar! É como escreveu Maurice Blanchot, «é o desastre escuro que carrega a luz». Deus sempre encontra uma saída do meio dos «dilúvios», mas também nós precisamos escolher esse caminho. Essa comunhão – nós e Deus – é a possibilidade da arca, o regresso a esperança, a transgressão do amor, a vitória da multiplicidade.
Também nessa história é possível compreender sobre o Deus que não castiga, mas que ajuda a passar de uma situação para outra – do dilúvio a uma nova terra, quiçá ao jardim inicial, a harmonia do «tudo era bom». Deus é sempre esse além da compreensão, o além da lógica humana, porque é totalmente bom e amoroso.
Há situações da vida que exigem «construir uma arca», ou seja, reinventar, amadurecer, passar de um lado para o outro, deixar de pisotear e sofrer no mesmo dilúvio e buscar impulso para a felicidade. Os dilúvios podem ensinar tanta coisa na vida, mas o nosso Deus é aquele que quer nos salvar do dilúvio e para isso precisamos construir a arca!