Os movimentos de Jesus eram repletos de conteúdo. O evangelho de hoje conta sobre a cura de um homem surdo e que falava com dificuldades (Mc 7,31-37). A primeira atitude de Jesus foi de afastar-se com ele para fora da multidão. Os gestos seguintes estão amarrados a esse primeiro que sublinha a necessidade de tomar distâncias de determinadas situações que a vida coloca.
Esse deslocamento não significa uma fuga do mundo real. José Saramago, em uma obra brilhante, O conto da ilha desconhecida, registrava a famosa expressão: «É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós». Existem algumas distâncias que são fundamentais, porque ensinam que pisotear sempre no mesmo lugar produz um apagamento do sentido (dos sentidos) da vida!
O afastamento de Jesus e do homem possibilitou uma proximidade maior, uma atenção particular sucedida por gestos corporais, o olho no olho, o toque «nas feridas» do ouvido e da boca, o suspiro pelo sofrimento, o silêncio… são movimentos que a multidão poderia sufocar.
Há situações que é preciso ter coragem de enfrentar um deslocamento, dar um passo ao lado, afastar-se para «ver, sentir, pensar» de outros lugares. Essa atitude pode exigir tomadas de decisões grandes, mas fundamentais para guardar a felicidade! Grandes escolhas não se fazem de um dia para o outro, muito menos em momentos de nervosismo e agitação (pisar no mesmo lugar), mas podem ser modeladas com o necessário passo ao lado, ponto de partida de grandes curas, afinal, como diz a máxima de Santo Irineu: «a glória de Deus é o homem vivo».