A arte é uma grande potência de consolação: é um remédio, um bálsamo, uma brisa! Alberto Burri, artista visual, pintor, escultor e médico italiano, falecido em 1995, realizou na comunidade de Gibellina, na região da Sicília, uma obra chamada «O grande Cretto».
Gibellina foi totalmente destruída por um terremoto em janeiro de 1968: 370 mortos, 1.400 feridos, mais de 100.000 sem ter onde morar. Uma ferida aberta! A genialidade de Alberto Burri traduziu a dor em arte e a arte é a memória que ajuda dar sentido ao luto e a saudade!
«O grande Cretto» é o esforço de redesenhar a cidade, transformar os escombros sem escondê-los, organizar «o que sobrou». Burri estudava sobre o sofrimento humano e sabia que o pior a ser feito é esconder, é tentar apagar ou esquecer. Organizar o que restou: 90.000 metros quadrados de concreto para incorporar a velha Gibellina através de uma série de cubos, organizados de tal forma que se mantivesse o plano original das estradas da cidade.
O labirinto, de cima, parece um grande lençol fúnebre. Quando tocado, pisado, tateado transporta-nos ao lado da morte, bem perto do horror e da tragédia. É o caminho entre a ausência e a presença, a estrada para procurar significados. A arte de Burri faz pensar nas feridas, nos lutos, nas saudades que carregamos e que corremos o risco de querer esconder, negar e mascarar! A maior e mais difícil tarefa é deixar aparecer, contar e organizar.