O milagre exige confiança e confiar é uma escola para a vida inteira! Enganamo-nos quando pensamos que a fé só depende de nós, do esforço pessoal, da pretensiosa perfeição exterior. Confiar é abrir os olhos para o mundo ao nosso redor, para a vida que acontece perto de nós! Michelângelo dizia que diante do mármore não via só o mármore, já via a escultura pronta, e o seu trabalho era «libertá-la»! Outro poeta, das palavras, o Fernando Pessoal, registrou que «o essencial é aprender a ver (…). Isso exige um aprendizado de desaprender».
Os moradores de Nazaré, vizinhos, amigos e parentes de Jesus, não conseguiam confiar, narra o evangelho de hoje (Mc 6,1-6) e, por isso, «Jesus não realizou ali nenhum milagre». Eles tinham dificuldade de perceber alguma novidade naquele menino que cresceu no meio deles: «de onde recebeu ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos? Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?» Fechados, aniquilados por decisões já tomadas, por perguntas exteriores, não abrem espaço para confiar, para ver de verdade o que acontecia diante deles.
Nazaré recorda que a confiança é sempre um elemento do cotidiano, habitada pelas relações. A forma como confiamos em Deus deve estar em harmonia com a forma como confiamos uns nos outros, como nos relacionamos uns com os outros, de olhos bem abertos para a «Nazaré» de todo dia. O milagre, a escola de aprender a confiar, a maturidade da fé, passam pelo cotidiano, pelo habitual, pelo hoje, pelo amanhã, pela esposa, pelo namorado, pelos filhos e netos, pelo gato, pelo cuidado com a natureza, pela gentileza e pelo pedido de desculpas. Essa é a fé que não impede o milagre!