Nem sempre Deus está na forma que esperamos! É curioso que, no evangelho de hoje (Mc 4,35-41), os discípulos estavam atravessando para a outra margem do lago em uma pequena barca e começou uma ventania forte que enchia a barca de água. Jesus estava dormindo! O evangelista faz questão de sublinhar: «na parte de trás dormindo sobre um travesseiro».Jesus estava na barca, mas não como os discípulos queriam! A pergunta dos discípulos foi: «não te importas conosco?» Esse silêncio, essa ausência de Deus quando a gente gostaria de ver sua mão poderosa agindo é que convida a uma fé mais profunda, que supera a rasa vontade de decidir o que Deus deveria ou não fazer.
Deus sempre foge do nosso controle! Isso significa dizer que Deus não está sensível aos acontecimentos. Primeiro, o deslocamento de Deus e a sua aparente ausência nos momentos que mais precisamos é um convite a procurá-lo e a descobri-lo em outros lugares. O suposto silêncio, traduzido no sono de Jesus, é uma grande potência de novidade. Só vamos compreender determinados silêncios mais tarde e aprender que Deus «se utiliza» de outros meios, de outras pessoas, de outros caminhos para «acalmar» as ventanias da vida.
Amadurecer a fé passa por abrir os círculos do nosso mundinho, dos nossos preconceitos, das barreiras que erguemos, dos medos de atravessar o mar, da impotência com as ventanias… tudo isso é efêmero se conquistarmos a capacidade de confiar e de perceber que Deus sempre está bem perto, bem perto, muito embora, talvez, não da maneira como imaginamos!
O teólogo protestante Dietrich Bonhoeffer sintetizou de uma maneira muito profunda essa dimensão da relação com Deus que precisamos experimentar, cada dia de uma forma nova: «Deus não me salva ‘da’ tempestade, mas ‘dentro’ da tempestade. Ele não protege contra a dor, mas ‘na’ dor. Ele não salva o Filho ‘da’ cruz, mas ‘na’ cruz.»
Pe. Maicon A. Malacarne