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O que devo fazer, Senhor?

A conversão de São Paulo, celebrada hoje, é convite a regressar para um dos maiores cristãos de todos os tempos. As tantas pesquisas não esgotaram a abundância do significado de Paulo, nos primeiros séculos, e toda a herança de seu percurso como convertido, escritor, poeta, cidadão das estradas e incansável pregador do evangelho. Pode-se dizer muitas coisas sobre Paulo. Pensando na sua conversão, partilho três intuições que não deixam de ser itinerários espirituais:

  1. A conversão de Paulo começa com um tombo. O tombo, no fundo, é a dobradiça de uma porta que se abre. Paulo encerra um estilo de vida e começa outro. Toda mudança é exigente e o tombo é a metáfora do susto, da dor, mas, ao mesmo tempo, do convite a levantar-se e viver coisas novas. Os tombos são oportunidades para despertar, para abrir um outro mapa da história.
  2. Nos Atos dos Apóstolos (At 22,3-16), a experiência de conversão de Paulo é narrada assim: «uma grande luz que vinha do céu brilhou ao redor de mim». Paulo sempre deixou aberta a janela da sua história para Deus e isso o fez passar de perseguidor dos cristãos a um verdadeiro cristão. A abertura a graça, a luz, a deixar-se rodear por Deus é uma epifania que vai acontecendo no cotidiano, basta abrir espaço para que isso aconteça. Mais tarde, ele mesmo registrou: «basta a tua graça» (2 Cor 12,8).
  3. O compromisso que Deus pediu a Paulo foi de ir a Damasco encontrar Ananias. Trata-se de iniciar um caminho! A mudança não é mágica, precisa de itinerários e de interlocutores: «cheguei guiado pela mão dos meus companheiros». A vida espiritual nunca se faz sozinha. É preciso «mãos», «pés», «Ananias», gente como a gente, que ajuda na mediação de uma vida nova. Mia Couto escreveu que «ninguém tem ombro para suportar sozinho o peso de existir».

A pergunta que abre a conversão de Paulo é: «o que devo fazer, Senhor?» Não há uma única resposta, não há uma única receita, mas há um convite que continua aberto para todos. O que devo fazer entre os tombos, as luzes, e as mãos que me rodeiam?

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1 comentário em “O que devo fazer, Senhor?”

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