No momento em que Jesus formou sua pequena comunidade com os doze apóstolos, escutamos o seu primeiro convite: «fiquem comigo!» Trata-se de um detalhe fundamental! Na natureza do seguimento de Jesus está a unidade, a convivência com Jesus que sugere a formação de um vínculo. Na origem da missão está a comunhão, não o isolamento e nem mesmo o perigoso ativismo.
O filósofo judeu Martin Buber assinalava que existem dois tipos de relações, o eu-tu e o eu-isso. Quando o outro é o tu, acontece o verdadeiro encontro: «o ser humano se torna eu pela relação com o tu (…) Todo viver real é encontro.» Quando o outro é o «isso», o perigo pode ser forjar relações violentas, a tentativa de domesticar e controlar. Nossa identidade humana está calcada no primado da convivência que sempre é primado da comunhão!
O discipulado de Jesus passa pelo lugar de saber conviver. Cada encontro, cada reunião, cada formação, cada estudo, necessita de espaço para convivência, para narrativas de histórias e partilhas de vida… A convivência não pode ser reduzida ao «temos 30 minutos de intervalo para conviver», mas precisa organização e articulação.
«Nada existe além do rosto», escreveu o pintor Paul Cézanne, um convite a voltar-se para o outro, ou, para fora, já que, como diz o poeta Alberto Caeiro: «não vejo para dentro». Não se trata da negação do importante autoconhecimento, mas de afirmar a relação. O meu «dentro» também está dentro do «outro».
Na fidelidade de São Sebastião, perseguido até a morte, peçamos a graça de construir vínculos de liberdade e de autonomia cujo ponto de partida e ponto de chegada é sempre «estar com Jesus», custe o que custar.
Pe. Maicon A. Malacarne