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Da atrofia à luz!

Todos nós carregamos atrofias, aquelas brechas que foram feridas na história e que vivem misturadas com a nossa identidade, com aquilo que somos! A tentação é sempre acusar a atrofia do outro sem compreender o mapa da dor, numa tentativa, quase sempre fracassada, de esconder as brechas ainda maiores que nos habitam!

No percurso de Jesus, o Cristo, as feridas ocupam uma atenção especial, não para serem julgadas, mas para serem cuidadas, integradas e curadas. Ao homem de «mão seca», do evangelho de hoje (Mc 3,1-6), não obstante os olhares adversos e acusadores, Jesus diz: «levanta-te e fica aqui no meio». No fundo, é tudo o que a nossa condição humana precisa: levantar é ressuscitar, é transformar a nossa prostração e desânimo. Ficar no meio é sentir-se integrado, relacional, social e aberto ao mundo. No momento que ajudamos alguém a «ficar de pé» e «vir para o meio» estamos resgatando toda a potência humana que não se restringe aos fracassos que a pessoa possa ter vivido.

O evangelho de hoje é um grande convite a abraçar a «nossa atrofia», a nossa «mão seca» e transformá-la em lugar de luminosidade. A grande doutora da Igreja, Hildegarda de Bingen, escreveu sobre a grandeza da capacidade de transformar «as feridas em pérolas». O bravo psicanalista Massimo Recalcati, no seu último livro sobre o luto e a saudade, usa a metáfora da «luz das estrelas mortas». Os nossos vazios, as nossas escuridões, as nossas feridas, são brechas que podem fazer passar a nova luz, a nova possibilidade de existir.

«Levanta-te e fica aqui no meio» é a voz de Jesus que ressoa para todos e é o convite a uma vida que cura mais do que julga, que integra mais do que aponta e divide. Trata-se de um mapa para transformar as nossas inúmeras «mãos secas».

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