O Fernando Pessoa tem uma poesia que diz: «Estou cansado, é claro, porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado. De que estou cansado, não sei!» Essa intuição parece traduzir certo sentimento que atravessa o mundo: estamos cansados! O filósofo coreano Byung Chul Han escreveu um livro muito interessante cujo título é «A sociedade do cansaço» em que analisa o excesso de positividade como perigo para a saúde coletiva da humanidade.
O evangelho de hoje (Mt 11,28-30) são só dois versículos, mas um grande convite de Jesus: «vinde a mim, vocês que estão cansados!» É muito interessante, porque o descanso está em se aproximar de Jesus, em estabelecer contato, vínculo. O descanso é a relação!
Normalmente se pensa que descansar é ir para longe de tudo, ficar sozinho, quieto, e, claro, há uma dimensão importante nessa lógica. No entanto, Jesus inverte a proposta. É o vínculo com Ele, o portador do maior repouso. Podemos dizer mais: são os vínculos saudáveis entre nós que ajudam a descansar, a vida ser mais tranquila e mais reconciliada! O cansaço pode ser sintoma de relações pesadas, sufocantes e, pelo evangelho, o melhor remédio não é a fuga dessas relações, mas o esforço para compreendê-las, enfrentá-las e curá-las.
Esse «vinde a mim» é o imperativo da oração de hoje! Para onde corremos? Onde encontramos descanso? Nossa tentativa de aliviar o cansaço não é uma fuga que Jesus pede para ser sanada ao invés de mascarada?
Pe. Maicon A. Malacarne