Em uma reunião com a Pastoral das pessoas com deficiência, em Erechim, uma das participantes partilhou sua história de como um acidente lhe tirou totalmente a visão e parte da audição. No final ela usou uma expressão tremenda: «eu vejo melhor agora do que antes»! Essa experiência sempre volta quando penso sobre o significado de enxergar, sobre o que guarda a nossa visão das coisas!
Todo evangelho pode ser lido a luz dessa chave: passar da escuridão a luz, aprender, com Jesus, a ver novas todas as coisas! De fato, a cada palavra de Jesus, a cada sinal, a cada milagre, a cada discurso, a cada gesto pode se ver, mais ou menos escondido a grande intuição de trazer um novo alcance ao olhar!
O problema que quando achamos que enxergamos muito bem, que todo nosso modo de ver corresponde à verdade, caímos da cilada da cegueira, da visão repartida, da falta de integralidade do olhar. O pedido do cego que Jesus cura no evangelho de hoje (Lc 18,35-43) é um pedido de toda pessoa de fé: «Senhor, eu quero enxergar de novo»! Trata-se de um pedido para passar de uma condição a outra, da cegueira para a visão, mas, também, de um estilo para outro, de uma visão viciada, para um olhar livre e aberto.
«Senhor, eu quero enxergar de novo», é uma oração para ir repetindo durante o dia, mas sobretudo, é uma espiritualidade que deve mover a nossa vida. Dante na Divina Comédia passa do Inferno ao Paraíso com ajuda de Santa Luzia, a santa protetora da visão: «aquela que me fez ver novamente!».
Pe. Maicon A. Malacarne