No evangelho de João, Jesus se apresentou como «a porta das ovelhas» (10,7). Para chegar a Deus é preciso passar por Jesus Cristo. Num contexto diferente, Lucas, no evangelho de hoje (13,22-30) apresenta Jesus que convidava: «fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita». A metáfora da porta estreita é o convite que faço para oração de hoje!
Há muitas leituras que sugerem a porta estreita na perspectiva da salvação, ou seja, poucos serão salvos porque muitos terão dificuldade de atravessá-la. Prefiro uma leitura que indica o último gesto de Jesus no meio de nós – o lava-pés. A porta estreita lembra que todo seguidor de Jesus precisa trabalhar para transformar-se pequeno, humilde, em pessoa que sabe se abaixar para servir.
Um dos maiores escritores da mística, São João da Cruz, na sua grande obra sobre a Subida ao Monte Carmelo, propunha o diálogo entre o tudo e o nada: «Para chegares a saborear tudo, não queiras ter gosto em coisa alguma. Para chegares a possuir tudo, não queiras possuir coisa alguma. Para chegares a ser tudo, não queiras ser coisa alguma. Para chegares a saber tudo, não queiras saber coisa alguma». Esse caminho de esvaziamento para atravessar a porta estreita é próprio do evangelho.
Quando o mundo grita que a felicidade está em ser grande, em ser importante, o evangelho de Jesus Cristo sugere a inversão: descer, fazer-se tão pequeno quanto do tamanho da estreiteza. Jesus recomendava o absurdo do nada: «esvaziou-se a si mesmo tomando a condição de servo» (Fl 2,7). E ainda no evangelho de Mateus ele disse: «quem entre vós quiser se fazer grande, seja o servidor de todos» (Mt 20,26).
É por essa construção da pequenez, da humildade, entre erros e acertos, dando-se conta das limitações, mas com os olhos fixos no evangelho que a porta se torna acessível para todas as pessoas!
Pe. Maicon A. Malacarne