O psicanalista italiano Massimo Recalcati com muita precisão reflete sobre o tema do desejo. Para ele, o maior de todos os milagres é o milagre de desejar! O desejo é sempre uma experiência pessoal, singular, humanizadora, mas, sempre atravessada e superabundante. É que o desejo de cada pessoa só encontra resposta no desejo do outro. Dizendo de outra forma, a minha vida só tem sentido se a vida do outro me for importante e vice-versa. Quando o outro vai se tornando inimigo ou total adversário, acontece a assunção da desumanização que é negação do desejo.
Recalcati reflete o milagre do desejo a partir de uma experiência pessoal. Depois do matrimônio, a esposa e ele descobriram que não poderiam ter filhos, o maior sonho de ambos. Mesmo sendo de família católica, conta que há muitos anos não rezava. Com muita frequência caminhava ao redor da Catedral de Santo Ambrósio (um dos primeiros 4 doutores da Igreja, ao lado de São Jerônimo, que celebramos hoje!), em Milão. Quando entrava, não tinha coragem de dizer e nem de pedir nada, mas partilhava de uma paz muito grande. Foi depois de uma dessas visitas que ele diz ter recebido a notícia que a esposa estava, milagrosamente, grávida.
Jesus desejava muito o Reino de Deus! Ele é sinal desse Reino e, ao mesmo tempo, convidava discípulos a participarem dessa construção e comunicarem ao mundo essa boa notícia. O coração de Jesus foi sempre desejante de vida e sempre aberto ao outro, sem nenhum tipo de discriminação e preconceito. O fechamento ao amor é próprio do anti-Reino, como também Jesus chamava atenção no evangelho de hoje (Lc 10,13-16) das cidades de Corazin e Betsaida porque rejeitavam e desprezavam a Palavra.
O Deus de Jesus Cristo, no Antigo Testamento, é o que colocava Jó de pé. A primeira leitura de hoje começa com essa cena simbólica e de tanto significado: «o Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade». Nos turbilhões da nossa vida, Deus continua bem perto e esse é o maior de todos os milagres!
Desejar encontrar Deus e desejar deixar-se encontrar por Ele é uma exigência de quem acredita! Isso só pode ser possível quando o outro é, de verdade, um irmão e uma irmã. Quando rejeito o outro, tomo distância de Deus!
Pe. Maicon A. Malacarne